Em um mundo onde cada grama de CO₂ emitido conta, o setor de transportes e logística encontra-se no centro das atenções. Conhecido por ser um dos grandes emissores de gases de efeito estufa, o segmento se vê obrigado a buscar rotas mais sustentáveis. A cabotagem figura, aqui, como uma alternativa economicamente vantajosa, que garante segurança e eficiência em várias frentes. Ela exige um menor investimento público e proporciona operações a um custo reduzido e uma redução expressiva dos riscos de acidentes, roubos e extravios.
Porém, o que realmente a coloca em um patamar diferenciado é o seu compromisso com o meio ambiente. Neste artigo, mostraremos como a cabotagem pode colaborar para um futuro mais verde, no qual economia e ecologia são mais do que compatíveis: são complementares.
BR do Mar e o incentivo à cabotagem
Com a promulgação da Lei Nº 14.301 em 2022, o Brasil abriu novas possibilidades para revigorar sua logística interna. O Programa de Incentivo à Cabotagem, mais conhecido como BR do Mar, visa potencializar um transporte mais eficiente e sustentável, especialmente para percursos superiores a 1.500 quilômetros, nos quais o modal aquaviário demonstra ser mais seguro e econômico que as alternativas rodoviária e ferroviária.
A cabotagem, que envolve o trânsito de embarcações entre portos dentro de uma mesma nação, encontra no Brasil um terreno fértil para expansão. O país dispõe de uma generosa faixa litorânea de sete mil quilômetros, além de uma rede fluvial com 25 mil quilômetros de rios navegáveis.
Benefícios ambientais
Um recente levantamento da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos trouxe à tona dados que enfatizam a eficiência ecológica do transporte aquaviário em comparação ao rodoviário. O estudo demonstrou que, enquanto um caminhão convencional é responsável pela emissão de 161 gramas de CO₂ por tonelada-milha, um navio de carga emite somente 15 gramas, configurando uma notável redução na pegada de carbono.
Mais do que uma alternativa para minimizar a poluição atmosférica, o transporte por vias aquáticas engloba benefícios múltiplos: atenua a poluição sonora e luminosa, problemas típicos do trânsito terrestre, e apresenta-se como um antídoto para os crônicos congestionamentos urbanos. A escolha por essa modalidade pode reverter o cenário de estradas saturadas e diminuir as emissões advindas dos engarrafamentos prolongados.
A reflexão acerca da infraestrutura necessária para comportar os diversos meios de transporte revela que o setor aquaviário se destaca positivamente. Ao exigir menor expansão de áreas terrestres destinadas a rodovias e ferrovias, ele contribui para a preservação de regiões ainda não alcançadas pelo homem, mitigando processos de desertificação e garantindo a proteção de habitats naturais.
Além disso, esse modal de transporte propicia a salvaguarda e a criação de espaços aquáticos vitais, promovendo corredores ecológicos que incentivam a biodiversidade. Sob uma ótica futurista, a indústria marítima já começa a explorar tecnologias sustentáveis inovadoras, lançando mão de fontes renováveis, como energia eólica e solar, na propulsão de embarcações.
Segurança nas estradas e mares
O Ministério da Infraestrutura, por meio do seu Anuário Estatístico de Transportes 2010-2021, trouxe números que reforçam a preponderância da cabotagem como uma alternativa segura e ecologicamente correta para o transporte de cargas no Brasil.
O levantamento aponta que, enquanto o número de acidentes rodoviários se mantém alarmantemente elevado, com uma média anual de, aproximadamente, 65 mil ocorrências entre 2019 e 2021, a cabotagem demonstra uma tendência de segurança crescente, indicada pela redução de 21% no número de acidentes aquaviários no mesmo período.
O transporte rodoviário, ainda predominante no Brasil, enfrenta questões urgentes de segurança, incluindo a crescente ameaça de roubo e extravio de cargas – situações significativamente atenuadas quando se opta pela cabotagem.
Avanço econômico
Estudo conduzido pela Empresa de Planejamento e Logística (EPL) revelou que adotar a cabotagem pode representar uma economia de até 15% em relação ao transporte rodoviário. Este dado é corroborado por informações da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), que indica uma queda potencial de até 30% nos custos logísticos.
A redução no preço final dos produtos, beneficiando tanto consumidores quanto empresas, e a expressiva diminuição do impacto ambiental são, portanto, argumentos irrefutáveis para um investimento contínuo e consciente na cabotagem.
O que pode ser transportado por cabotagem?
Tradicionalmente, este modal é utilizado para grandes carregamentos:
- minérios e madeira;
- tratores e outros maquinários pesados;
- granéis líquidos (óleo e petróleo).
Existe um grande potencial para ampliação dos fluxos atuais de produtos agropecuários:
- grãos (arroz, trigo, feijão e milho);
- produtos da silvicultura;
- adubos e fertilizantes.
E a possibilidade de nova demanda para as seguintes cargas:
- frutas temperadas dos estados do Sul, em direção ao Nordeste;
- frutas tropicais do Norte/Nordeste, em direção ao Sul;
- carnes e outros produtos agroindustrializados;
- produtos do complexo da soja (farelo e óleo).
Acordo de Cooperação Técnica visa descarbonização no setor portuário
Contudo, uma migração, mesmo que parcial, ao modal aquaviário também precisa levar em consideração o risco de expor esse meio às agressões ambientais. Por isso, em 18 de setembro, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e a GIZ (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit) assinaram um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) no contexto do projeto H2Uppp.
Esse projeto tem como principal meta avaliar o estado atual da infraestrutura portuária nacional, visando adaptá-la para a recepção de embarcações movidas a combustíveis zero carbono.
O foco é possibilitar o uso e exportação de hidrogênio verde e seus derivados (PtX), bem como garantir o fornecimento de energia oriunda de fontes renováveis para as embarcações atracadas nos portos brasileiros.
Adicionalmente, o estudo conduzido nessa cooperação internacional buscará mapear e analisar as iniciativas já em andamento em território brasileiro que têm como objetivo a redução da emissão de gases de efeito estufa no setor portuário, com especial atenção para os projetos que envolvem o hidrogênio verde.