O Peru inaugurou, em 14 de novembro, um dos maiores investimentos portuários da América Latina: o Porto de Chancay, empreendimento de US$ 3,5 bilhões liderado pela chinesa Cosco Shipping Ports, maior operadora portuária do mundo. O megaprojeto representa a mais expressiva injeção de capital chinês em infraestrutura no país andino.
A cerimônia marcou a conclusão da primeira fase do complexo portuário, que ocupa 148 dos 280 hectares projetados, e aproveitou a presença do presidente chinês Xi Jinping na região, por conta da sua participação na reunião do G20.
Em minha opinião, quando o Porto de Chancay estiver totalmente operacional, ele será bastante positivo para o Brasil. Análises iniciais indicam que o novo hub poderá reduzir em 25% o tempo de navegação entre o mercado asiático e a América do Sul, comparado às rotas tradicionais via Canal do Panamá, Cabo da Boa Esperança ou circunavegação do Atlântico.
Com calado de 20 metros – superior aos 15 metros do Porto de Santos –, Chancay estará habilitado a receber Ultra Large Container Vessels (ULCV), ou seja, navios com capacidade superior a 20 mil TEUs. Entretanto, o desafio logístico para conexão com o Norte do Brasil permanece: o corredor multimodal inclui 800 quilômetros de trajeto rodoviário através dos Andes pela Interoceânica até Tabatinga (AM), seguido por transporte fluvial até Manaus pelo Rio Solimões.
Resumindo, as cargas precisarão cruzar os Andes peruano e a Floresta Amazônica até chegar às rotas tradicionais. Também é preciso considerar que as estradas andinas não comportam o tráfego de grandes caminhões, o que representará um custo a mais no frete terrestre, sobretudo para grãos, e a questão da segurança naquelas estradas, que registram índices consideráveis de roubo de cargas.
A viabilidade econômica da rota via Chancay dependerá de uma análise minuciosa dos custos logísticos totais, incluindo fretes marítimos, rodoviários e fluviais. A Zona Franca de Manaus me parece ser a principal beneficiária potencial do novo corredor logístico, considerando seu alto volume de importações asiáticas e a possível redução expressiva no transit time.
O Porto de Chancay reforça a robusta parceria comercial sino-brasileira. No acumulado até outubro de 2023, as exportações brasileiras para a China alcançaram US$ 84 bilhões, compostas, principalmente, por commodities estratégicas, como petróleo, minério de ferro, proteína animal e celulose. Ano passado, o intercâmbio bilateral atingiu US$ 157 bilhões, com superávit favorável ao Brasil de US$ 51 bilhões, o que deixa cristalina a relevância do mercado chinês para a balança comercial brasileira.
[Nota editorial: Este texto reflete análises baseadas em projeções de cenários, sujeitas a variáveis político-econômicas em constante evolução.]
Denise Alves
CEO da Nuno//Fracht