Acordo comercial Mercosul-UE não dará bola aos apitos da França

Mais um ponto para nós, do comex brasileiro, acompanharmos atentamente. Em 27 de novembro, o presidente Lula afirmou que os franceses “não apitam mais nada” em relação ao acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. “Quem apita é a Comissão Europeia, e a Ursula von der Leyen tem procuração para fazer o acordo. Eu pretendo assiná-lo ainda neste ano; tirar isso da minha pauta”, disse.

Coincidência ou não, o posicionamento firme do presidente veio dias após a desastrosa declaração do CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, sobre sua recusa em comprar e revender carnes dos países que compõem o Mercosul. 

Vale ressaltar que o Brasil representa o segundo maior mercado do grupo varejista francês. Sua participação é de 25% nas vendas globais, que correspondem a um faturamento de 6 bilhões de euros.  

O acordo Mercosul-UE vem sendo discutido há mais de 20 anos e prevê, entre outros itens, eliminação do imposto de importação para mais de 90% dos bens comercializados entre os países dos dois blocos, revisão de tarifas e cotas, práticas de livre comércio para bens industrializados e acesso ao comércio de serviços dentro de um período que, possivelmente, se dará em torno de dez anos. 

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a BusinessEurope, principal entidade empresarial europeia, formalizaram durante a reunião do G20 no Brasil um documento conjunto no qual pressionam pela conclusão do acordo comercial Mercosul-UE. Segundo projeções técnicas das duas organizações, a implementação do tratado elevaria de 10,7% para 48,6% o coeficiente de inserção do Brasil nas cadeias globais de valor até 2030. 

Na mesma linha, a Fiesp defendeu, em maio do ano passado e com dados estatísticos oficiais de 2022, que o acordo de livre comércio entre esses dois blocos beneficiaria 2,8 mil produtos industriais exportados pelo Brasil para os países europeus.

A entidade mencionou nesse comunicado que quatro em cada dez produtos industriais exportados à Europa deixariam de pagar o imposto de importação – e, assim, teriam melhores condições de competir no mercado europeu, beneficiando, principalmente, os setores de máquinas e equipamentos, produtos químicos, equipamentos elétricos e automotivos.

Na ocasião, a Fiesp ainda afirmou que, se já estivesse válido em 2022, o acordo ajudaria a baratear produtos industriais que responderam por R$ 13 bilhões das exportações do Brasil à União Europeia – um quarto do total de US$ 50,892 bilhões daquele ano.

[Nota editorial: Este texto reflete análises baseadas em projeções de cenários, sujeitas a variáveis político-econômicas em constante evolução.] 

Denise Alves
CEO da Nuno//Fracht