Sem retrospectivas ou projeções

No exercício reflexivo de avaliar 2024 e projetar 2025, seria natural começar pelos obstáculos enfrentados. Afinal, foi um ano que testou nossa resiliência, tanto na questão das guerras e da economia global quanto na vertiginosa evolução das inteligências artificiais. Porém, reduzir os últimos doze meses a uma lista de desafios e adversidades seria subestimar a extraordinária capacidade humana de se adaptar.

O que inicialmente se apresentou como “dificuldade” – termo que costumamos usar para situações que contrariam nossas expectativas – revelou-se, na verdade, um catalisador de mudanças que não podiam mais ser adiadas.

Dois mil e vinte e quatro entrou para a história como um ponto de inflexão na consciência global. A humanidade finalmente abandonou o ceticismo e encarou de frente a realidade das mudanças climáticas, que deixaram de ser uma ameaça distante e, agora, são vistas como uma emergência presente.

No âmbito do comércio internacional, essa mudança de mentalidade materializou-se em ações concretas: grandes corporações, empresas de todos os portes, entidades públicas e agentes políticos, antes focados exclusivamente em resultados financeiros, protagonizaram uma girada de 180º e incorporaram maciçamente práticas ESG em suas operações core.

Não se tratou apenas de uma adequação cosmética ou de marketing verde. As empresas públicas e privadas revisaram desde seus processos logísticos até suas políticas de fornecimento. Certificações ambientais deixaram de ser diferenciais competitivos para se tornarem pré-requisitos, enquanto acordos comerciais passaram a incluir cláusulas rigorosas sobre sustentabilidade.

Houve desafios, sem dúvida. Porém, como aponta a dra. Sônia Maria Dozzia Brucki, coordenadora do Grupo de Neurologia Cognitiva do HC-FMUSP, devemos exercitar uma curadoria mais otimista de nossas memórias, uma vez que as boas lembranças são tão benéficas que, uma vez estimuladas, podem ajudar no tratamento de doenças como a depressão e ansiedade.

Que 2025 seja um ano de construção de pontes, não de muros; que, nos negócios, enxerguemos as pessoas por trás das tecnologias de comunicação e que nos esforcemos, com a mesma energia que dispensamos aos mais complexos processos logísticos, a gerar fatos e situações que construam memórias positivas.

Denise Alves
CEO da Nuno//Fracht