Em primeiro lugar os mais experientes players do comércio exterior reconhecem o valor da informação e como ela é imprescindível para lidar com a globalização pós-pandemia, sejam elas de caráter econômico, geopolítico ou cultural. Afinal, o comex sofre influências diversas, como vimos recentemente com a crise do transporte marítimo durante a pandemia e a crise de energia na Europa, decorrente da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
No texto de hoje nós procuraremos fornecer alguns conceitos e reflexões sobre a desglobalização. Embora ela ainda não seja uma realidade consolidada, é fundamental que as empresas e os agentes que atuam no comex considerem essa possibilidade.
Globalização vs. desglobalização: compreendendo os termos
A globalização ganhou força nos anos 90, como um processo de integração entre pessoas, empresas e governos de diferentes nações, impulsionado pelo comércio internacional e pelas tecnologias da informação.
A desglobalização, por sua vez, tem sido objeto de discussão desde a crise financeira global de 2008. Na época, surgiram preocupações sobre a globalização no pós-pandemia, como o aumento da desigualdade social e a perda de empregos em determinados setores da economia, uma vez que os mercados mundiais estavam fortemente entrelaçados.
Ela é um conceito multifacetado e pode ser interpretada de diferentes maneiras, dependendo do contexto e das perspectivas envolvidas. Basicamente, refere-se à reversão ou diminuição da integração econômica, política e cultural entre países e regiões.
Lições aprendidas com a globalização no pós-pandemia
Durante a pandemia, o mundo viu-se “refém” dos insumos necessários para medicamentos e atendimentos médico-hospitalares, já que a produção estava altamente concentrada na China.
Um pouco mais adiante, a Europa viu-se vulnerável à dependência da Rússia em várias áreas, principalmente no fornecimento de energia (como petróleo, gás natural e produtos derivados) e viu sua economia sofrer nas mãos dos russos quando tomou partido no conflito com a Ucrânia.
Contudo, observamos um alinhamento claro entre a China, Rússia e outros países com vieses ideológicos semelhantes. O próprio presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, tem demonstrado simpatia pela adoção de uma moeda única entre países vizinhos nas transações comerciais e na formação de blocos político-econômicos.
Causas potenciais para o avanço da desglobalização
Pesquisamos sobre as causas mais prováveis que poderão levar os governos a considerarem um processo de desglobalização. Confira:
- Políticas protecionistas: imposição de tarifas comerciais, restrições ao investimento estrangeiro e criação de barreiras regulatórias, com o objetivo de proteger as indústrias nacionais. Contudo, tais medidas podem levar à redução do comércio internacional e da cooperação econômica.
- Regionalização: aumento da integração regional, com países estabelecendo acordos comerciais e políticos com nações vizinhas. Essa medida não caracteriza uma desglobalização, mas, sim, uma resposta a ela, visando fortalecer a cooperação e a estabilidade econômica em uma área geográfica específica.
- Mudanças nas cadeias de suprimentos: empresas podem optar por reestruturar suas cadeias de suprimentos, buscando reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros.
- Aumento do nacionalismo econômico: países podem priorizar seus interesses nacionais em detrimento da cooperação internacional. Um exemplo notável foi a abordagem do “America First”, adotada por Donald Trump.
Por fim..
É importante ressaltar que essas possibilidades não são excludentes entre si. A diminuição da globalização no pós-pandemia pode se manifestar como um cenário multifacetado, dependendo das decisões políticas e econômicas tomadas pelos países e das dinâmicas globais que surgirem nos próximos anos.
A Nuno//Fracht continuará acompanhando de perto essas questões e fornecerá análises atualizadas sobre os possíveis impactos da desglobalização no comércio exterior.