Personalizar Consentimento

Os cookies são pequenos ficheiros de texto que podem ser utilizados por websites para tornar a experiência do utilizador mais eficiente. A lei diz que podemos armazenar cookies no seu dispositivo se forem estritamente necessários para o funcionamento deste site. Para todos os outros tipos de cookies precisamos da sua permissão. Este site utiliza diferentes tipos de cookies. Alguns cookies são colocados por serviços independentes que aparecem nas nossas páginas. Pode a qualquer momento alterar ou retirar o seu consentimento da Declaração de Cookies no nosso website. Saiba mais sobre quem somos, como pode contactar-nos e como processamos os dados pessoais na nossa Política de Privacidade. Indique sua ID de consentimento e a data quando entrar em contato conosco sobre o seu consentimento.

Ativos

Os cookies necessários ajudam a tornar um website útil, permitindo funções básicas, como a navegação e o acesso à página para proteger áreas do website. O website pode não funcionar corretamente sem estes cookies.

Nem cookie para visualizar

Os cookies de preferência permitem que um website memorize as informações que mudam o comportamento ou o aspeto do website, como o seu idioma preferido ou a região em que se você encontra.

Nem cookie para visualizar

Os cookies de estatística ajudam os proprietários de websites a entenderem como os visitantes interagem com os websites, recolhendo e divulgando informações de forma anónima.

Nem cookie para visualizar

Os cookies de marketing são utilizados ​​para seguir os visitantes pelos websites. A intenção é exibir anúncios que sejam relevantes e apelativos para o utilizador individual e, logo, mais valiosos para os editores e anunciantes independentes.

Nem cookie para visualizar

Os cookies não classificados são cookies que estão em processo de classificação, juntamente com os fornecedores de cookies individuais.

Nem cookie para visualizar

Fragmentação global: os US$ 1,9 trilhões em comércio ameaçados pelo novo protecionismo

Em tempos de globalização acelerada e conflitos comerciais frequentes, compreender a importância dos blocos econômicos nunca foi tão essencial. A origem deste fenômeno remonta ao período pós-Segunda Guerra Mundial, especialmente a 1951, com a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Este primeiro passo rumo à integração supranacional, que uniu França, Alemanha Ocidental, Itália, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo, tornou-se modelo para uma série de alianças futuras. Afinal, como afirma o Fundo Monetário Internacional (FMI), “políticas que tornam uma economia aberta ao comércio e investimento com o resto do mundo são necessárias para o crescimento econômico sustentado”.

O impacto desses acordos é inegável. Desde que o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio derrubou diversas barreiras comerciais em 1947, o valor das trocas comerciais globais cresceu 400%, segundo levantamento recente do Fórum Econômico Mundial.

O panorama atual: principais blocos e seu impacto econômico

  • O Acordo Regional Abrangente de Parceria Econômica (RCEP), maior bloco comercial em termos populacionais, cobre 30% do PIB global e da população mundial, concentrando-se na Ásia e Pacífico.
  • Segundo projeções do SwissRe Institute, este número deve subir para 35% do PIB global até 2030, representando o acordo comercial multilateral mais importante desde a formação do mercado único da União Europeia.
  • Enquanto isso, o acordo USMCA (sucessor do Nafta) entre Estados Unidos, México e Canadá representa 17% do PIB global, e o Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica (CPTPP) responde por 15% da economia mundial.
  • A União Europeia, por sua vez, representa 14% do comércio global, com um PIB combinado de €14,5 trilhões (aproximadamente, US$ 16 trilhões), configurando-se como a terceira maior economia do mundo.

Na encruzilhada entre protecionismo e integração, os principais blocos econômicos enfrentam desafios como transição energética, transformação digital e crescentes tensões geopolíticas que ameaçam fragmentar o sistema comercial multilateral construído nas últimas décadas.

União Europeia: o pioneiro em crise de identidade

A UE, com seus 27 países-membros, representa o mais avançado projeto de integração econômica do planeta. Com moeda única, livre circulação de pessoas e políticas comuns em diversas áreas, o bloco enfrenta uma crise existencial após a saída do Reino Unido (Brexit) e diante do crescimento de movimentos nacionalistas.

A pressão migratória nas fronteiras externas e divergências entre membros sobre autonomia fiscal colocam à prova o modelo de governança supranacional. O desafio de manter competitividade frente à China e EUA, especialmente em setores tecnológicos estratégicos, completa o quadro de tensões.

Mercosul: promessa sul-americana ainda por cumprir

Criado em 1991, o Mercosul reúne Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai como membros plenos. Apesar de avanços iniciais, o bloco permanece aquém de seu potencial, com uma união aduaneira imperfeita e sem a prometida livre circulação completa de bens e serviços.

As constantes mudanças de orientação política nos países-membros e disputas comerciais, especialmente entre Brasil e Argentina, dificultam um aprofundamento da integração. A negociação com a União Europeia, arrastada por mais de duas décadas, exemplifica os entraves políticos e econômicos enfrentados pelo bloco.

USMCA: o Nafta reinventado

Substituto do Nafta, o acordo entre Estados Unidos, México e Canadá (USMCA) representa a adequação do comércio norte-americano às tensões do século XXI. Com regras mais rígidas para o setor automotivo e proteções trabalhistas ampliadas, o acordo reflete a tentativa americana de proteger sua indústria e conter a influência chinesa na região.

O desafio central está em equilibrar a integração econômica com as disparidades salariais e sociais entre os três países, enquanto lidam com a crescente preocupação com segurança, imigração e narcotráfico nas fronteiras.

RCEP: a resposta asiática

O maior acordo comercial do mundo em termos populacionais, o RCEP reúne 15 países do Indo-Pacífico, incluindo China, Japão, Coreia do Sul e Austrália. Representa a tentativa asiática de criar um contrapeso à influência ocidental, com a China posicionando-se como potência regional central.

O desafio principal está em harmonizar interesses entre economias em diferentes estágios de desenvolvimento e com sistemas políticos distintos, além das tensões geopolíticas, especialmente no Mar do Sul da China.

Brics: de fórum econômico a bloco político

Originalmente um agrupamento de economias emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o Brics evoluiu para uma plataforma de cooperação política com crescente influência global. Com a recente expansão para incluir países como Egito, Irã e Etiópia, o grupo busca reformar a ordem econômica internacional.

O principal desafio está em transformar a retórica de cooperação Sul-Sul em mecanismos concretos de integração, superando as enormes diferenças econômicas, políticas e culturais entre seus membros.

Perspectivas: fragmentação ou nova integração?

O cenário atual sugere uma tendência à fragmentação do comércio global em blocos de influência geopolítica, com crescente protecionismo tecnológico e disputas por recursos estratégicos. Esta tendência é corroborada por dados do Banco Mundial, que estima que a fragmentação geoeconômica poderia reduzir o PIB global em até 12% em alguns países. O FMI, por sua vez, projeta que a “fragmentação severa” dos fluxos comerciais poderia custar à economia global entre 0,2% e 7% do PIB global.

A Organização Mundial do Comércio (OMC) reportou que, entre 2020 e 2023, mais de 3.000 novas medidas restritivas ao comércio foram implementadas globalmente, com o valor do comércio afetado por restrições de importação aumentando de US$ 800 bilhões em 2017 para mais de US$ 1,9 trilhão em 2022. Simultaneamente, o número de disputas comerciais levadas à OMC cresceu 40% nesse período.

O chamado “friendshoring” (transferência de operações para países amigos) e “nearshoring” (regionalização das cadeias de suprimento) já está modificando as cadeias globais de valor, com mais de 60% das empresas multinacionais reportando planos de relocação de pelo menos parte de suas operações nos próximos cinco anos, segundo pesquisa da McKinsey.

A transição energética e a digitalização da economia impõem novos parâmetros para a cooperação internacional. Os investimentos globais em tecnologias limpas ultrapassaram US$ 1,8 trilhão em 2023, enquanto o comércio digital representa agora mais de 25% do comércio global de serviços, criando novas áreas para cooperação – ou competição – entre blocos econômicos.

Os blocos que conseguirem adaptar-se às novas realidades, incorporando agendas de sustentabilidade e inovação tecnológica, terão melhores condições de prosperar em um mundo multipolar. No entanto, o caminho entre uma fragmentação acelerada e uma nova arquitetura de integração mais resiliente permanece incerto e condicionado às escolhas políticas das principais economias globais nos próximos anos.