O novo motor do setor automotivo global é a sustentabilidade

Conforme a poluição do ar se intensifica nas metrópoles globais, o setor automotivo é confrontada com a urgente necessidade de transformação. Um estudo realizado pela Universidade de São Paulo destaca a gravidade da situação: em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, cerca de 60% das emissões poluentes são atribuíveis aos veículos. Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que a poluição do ar contribui para cerca de sete milhões de mortes anualmente, sublinhando a crítica relação entre qualidade do ar e saúde pública.

Deste modo, ganha impulso a transição para veículos elétricos, anteriormente vista como uma faceta de um futuro distante. A Europa lidera essa mudança, impondo rigorosas metas de emissão e encorajando fabricantes tradicionais a acelerar a eletrificação de suas linhas.

 

Uma revolução necessária

O salto no interesse do setor automotivo pelo compromisso com um futuro mais sustentável coincidiu com a pandemia, que trouxe um novo olhar para os temas ambientais, sociais e de governança: o ESG. 

Este movimento convergiu, ainda, com as guerras entre Rússia e Ucrânia e no Oriente Médio e com a ampliação da consciência econômica de que o petróleo e seus derivados ficarão cada vez mais escassos e, por isso, os preços subirão.

Em 2017, apenas um em cada 70 veículos comercializados era elétrico. Atualmente, este número é de um em cada sete carros. Em 2022, houve um salto considerável nas vendas, com um aumento de 60% na aquisição de automóveis com essa tecnologia, segundo dados do Fórum Econômico Mundial.

 

Europa lidera o caminho

A Europa, em particular, está à frente da revolução sustentável no setor automotivo. Impulsionada pela adoção de normativas severas sobre emissões e o apoio de subsídios governamentais robustos, marcas renomadas como Volkswagen e Volvo estão acelerando a eletrificação completa de suas frotas.

Na linha de frente, países como Noruega e Países Baixos se destacam, graças a políticas de incentivo fiscal agressivas e investimentos consideráveis em infraestrutura. Este panorama contrasta com a situação em nações em desenvolvimento, como o Brasil, onde a adoção de veículos elétricos ainda se encontra em uma fase embrionária.

Um marco regulatório importante foi estabelecido pela União Europeia: a partir de 2035, todos os carros novos deverão ser isentos de emissões de CO2. Porém, isso não significa que somente veículos elétricos possam rodar nas ruas. A Alemanha, com apoio de países como Itália, Bulgária e Romênia, propôs uma revisão na legislação, permitindo a continuidade da produção de automóveis a combustão, desde que eles operem com combustíveis sintéticos.

Outro avanço é o acordo para expandir a infraestrutura de carregamento de veículos elétricos e as estações de abastecimento de hidrogênio, visando atender às crescentes demandas dos consumidores por conveniência e acessibilidade.

 

Desafios e progressos para a mobilidade elétrica

Embora promissora, a jornada rumo à mobilidade elétrica enfrenta grandes obstáculos, notadamente nas regiões mais povoadas e nos países em desenvolvimento. Um dos exemplos mais críticos é a falta de uma infraestrutura adequada para veículos elétricos. Adicionalmente, a crescente demanda por lítio, essencial para a fabricação de baterias, levanta questões ambientais e sociais devido aos efeitos da mineração e à sua disponibilidade limitada.

No Brasil, o cenário é particularmente complexo. As políticas de incentivo à adoção de veículos elétricos e híbridos ainda são tímidas se comparadas àquelas implementadas pelos líderes globais no setor. Fatores como a deficiência de infraestrutura para recarga e a elevada carga tributária também são barreiras consideráveis.

Contudo, esforços estão sendo empreendidos para alterar essa realidade. Programas como o Rota 2030 demonstram um engajamento com o desenvolvimento sustentável, ainda que especialistas apontem para a necessidade de um percurso extenso e dedicado em direção a uma transição eficaz para veículos mais limpos e ecológicos.

 

Principais inovações que impulsionam o setor

 

  • Baterias de lítio aprimoradas: com capacidades maiores e tempos de recarga mais rápidos, essas baterias elevam os padrões de eficiência energética.
  • Baterias de estado sólido: oferecem maior eficiência, segurança aprimorada e impacto ambiental reduzido.
  • Tecnologia de condução autônoma: promete revolucionar o transporte, tornando-o mais eficiente e seguro.
  • Recarga sem fio para veículos elétricos: uma inovação com potencial para transformar a infraestrutura de carregamento de veículos elétricos.
  • Uso de materiais sustentáveis e reciclados: a inclusão de plásticos reciclados, fibras naturais e compostos biodegradáveis na fabricação de veículos contribui para a redução da pegada de carbono.
  • Sistemas de energia alternativa: as células de combustível de hidrogênio se sobressaem como uma solução para viagens de longa distância, complementando as baterias elétricas.

 

Competitividade no comércio internacional

Em termos de comércio internacional, a sustentabilidade se converte em vantagem competitiva. A demanda por veículos mais limpos e eficientes cresce e, com ela, as oportunidades de exportação para mercados exigentes. 

A União Europeia, por exemplo, está impondo limites cada vez mais estritos à importação de veículos a combustão, o que poderá resultar em barreiras não-tarifárias para países que não acompanharem essa evolução.

Além disso, a cadeia de suprimentos do setor automotivo também passa por um processo de escrutínio quanto à sustentabilidade. Desde a mineração de lítio para baterias de carros elétricos até a reciclagem de componentes, a preocupação com o ciclo de vida dos produtos se torna um diferencial estratégico.

O setor automotivo está, portanto, no limiar de uma nova era, na qual o sucesso não se mede apenas pelas vendas, mas pela capacidade de inovar responsavelmente e de se inserir em um mercado global cada vez mais criterioso e regulado.