Mercosul: Quais são as perspectivas para 2024?

O Mercosul, bloco que reúne Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai (com a Venezuela suspensa), chega aos 33 anos de existência com o desafio de harmonizar as demandas de economias de portes distintos. Fundado em 1991 com o objetivo de fomentar a integração econômica e política regional, o grupo passa por um momento de avaliação sobre seu futuro e de que forma pode distribuir os benefícios da união aduaneira de maneira mais equitativa.

Em 2022, a participação do Mercosul no comércio global ficou em 1,1%, segundo a OMC (Organização Mundial do Comércio). No mesmo ano, o crescimento médio anual do PIB dos países integrantes entre 2015 e 2022 foi de 1,3%, de acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional).

Conforme o bloco ganha maturidade, perspectivas de expansão com a entrada de novos membros trazem questionamentos sobre como acomodar interesses divergentes sem abrir mão dos objetivos iniciais. Os rumos que o Mercosul deve tomar em 2024 e nos próximos anos são analisados no artigo a seguir.

 

Site oficial de “cara nova”

 

O Mercosul tem investido na modernização e aprimoramento de sua presença online, com um projeto de redesenho do seu portal na internet. A iniciativa está inserida no Programa IV do Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul e visa tornar a plataforma mais acessível e informativa aos cidadãos.

O novo site buscará oferecer uma experiência mais amigável e adaptada para aparelhos celulares, estando disponível em espanhol, português e inglês. O objetivo é facilitar o acesso a uma gama ampla de serviços e informações essenciais de forma mais eficaz, em linha com os propósitos de integração e cooperação dentro do bloco.

 

Fortalecimento das vozes femininas

 

A inclusão de lideranças femininas no Mercosul é fundamental para promover ações voltadas aos direitos das mulheres, envolvendo atores estatais, públicos, privados e movimentos sociais nos países do bloco. Essa integração de vozes femininas fortalece o processo decisório, tornando-o mais inclusivo e representativo.

 

Atualmente, mulheres ocupam posições de destaque tanto em equipes gerenciais quanto operacionais. Por exemplo, o Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos (IPPDH), o Instituto Social do Mercosul (ISM) e o Tribunal Permanente de Revisão (TPR) são liderados por mulheres. Além disso, na Secretaria do Mercosul, a Unidade Técnica do Fundo de Convergência Estrutural (UTF-Focem) e a Unidade de Comunicação e Informação (UCIM) são coordenadas por profissionais do gênero feminino.

 

Integração física e logística

 

Sob a presidência pro tempore do Paraguai, o Mercosul estabeleceu como prioridade o fortalecimento da integração física e logística entre seus membros. Um projeto em foco é o desenvolvimento da rota bioceânica, que conectará os mercados asiáticos à hidrovia Paraguai-Paraná. 

 

Essa imponente via fluvial, com 3.200 quilômetros de extensão atravessando cinco países, apresenta enorme potencial para o transporte de cargas. Porém, ela ainda é subutilizada, se comparada a rotas como o Rio Mississippi, nos Estados Unidos.

 

O presidente paraguaio, Santiago Peña, destacou a importância de investimentos para maximizar o aproveitamento dessa rota e garantir sua navegabilidade durante todo o ano. Paralelamente, Uruguai e Argentina concordaram em avançar com o projeto de dragagem do canal de acesso ao porto de Montevidéu, visando melhorar a logística marítima na região.

 

A ampliação da infraestrutura logística busca viabilizar um maior fluxo do comércio intrabloco, que movimentou US$ 41,8 bilhões em exportações em 2022, segundo a Aladi (Associação Latino-Americana de Integração). Além disso, fortaleceria a projeção internacional do Mercosul, que, atualmente, possui 10 acordos comerciais vigentes com outras nações e blocos, de acordo com a OEA (Organização dos Estados Americanos).

 

Políticas comerciais

 

As principais diretrizes da política comercial do Mercosul, como a TEC (Tarifa Externa Comum) e os acordos de livre comércio em vigor, deverão continuar exercendo influência significativa sobre as economias dos países membros. 

No intuito de adequar essas normas às demandas atuais, o bloco adotou permanentemente uma redução de 10% na TEC, sinalizando seu comprometimento com a agenda de maior flexibilização do comércio extrarregional. 

Em dezembro de 2023, o Mercosul firmou um acordo de livre comércio com Singapura, ampliando sua rede de parcerias internacionais. Atualmente, o bloco encontra-se engajado em negociações para estabelecer um potencial acordo comercial com o Canadá, parceiro estratégico na região das Américas.

 

Relacionamento com a China

 

O vínculo do Mercosul com a China permanece uma questão complexa, permeada por interesses e dinâmicas divergentes dentro do bloco. Dados da ONU Comtrade revelam que, em 2022, o volume de comércio entre os dois lados totalizou US$ 178,4 bilhões, reforçando a relevância dessa relação.

Apesar do pragmatismo chinês em preferir acordos bilaterais mais ágeis com nações individuais, o Mercosul tem buscado construir uma frente unificada de negociação. Contudo, a relação diplomática do Paraguai com Taiwan representa um entrave a uma abordagem integralmente coesa.

 

Conflitos e crises globais

 

O ano de 2024 traz um ambiente global complexo, repleto de tensões geopolíticas com reflexos sobre os esforços integracionistas do Mercosul. 

Conflitos como os que perduram no Oriente Médio têm impactado rotas comerciais estratégicas, a exemplo do Mar Vermelho, onde recentes confrontos elevaram os custos e emissões do transporte marítimo, conforme relatório de 2023 da IMO (Organização Marítima Internacional).

Essas crises regionalizadas exemplificam como instabilidades locais podem reverberar em cadeias globais de suprimentos, afetando fluxos comerciais de blocos como o Mercosul.

 

Descentralização do poder

 

Paralelamente, de acordo com analistas do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), o cenário global caminha para uma ordem multipolar, com o surgimento de novos polos de poder e influência para além das grandes potências tradicionais. Nações como Índia, Brasil e Turquia ampliam sua projeção, tornando ainda mais complexa a tessitura de consensos multilaterais.

Nesse contexto de descentralização do poder mundial, o Mercosul se vê diante de desafios acrescidos em suas negociações externas, como o arrastado diálogo para um acordo com a União Europeia.

Apesar dos ventos contrários, observa-se uma tendência global de proliferação de novos acordos comerciais regionais buscando facilitar os fluxos de bens e serviços. Segundo dados da OMC, foram notificados 350 acordos regionais vigentes em 2023.

Para especialistas, essa conjuntura imporá ao Mercosul a necessidade de reforçar sua coesão interna e aproveitar as oportunidades de maior abertura comercial de forma pragmática e estratégica, evitando o isolamento frente aos novos eixos de poder global.